quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A relação entre mestre e discípulo

Senpai 先輩 x Kohai 後輩
As artes marciais japonesas possuem, devido à sua origem militar, um processo hierárquico dentro de sua estruturação. As graduações oferecem aos alunos os seus referenciais e os ensinam a respeitar os que se encontram em posição mais elevada. Entretanto, a desconexão com essa disciplina é uma algo relativamente freqüente nos dias de hoje e conviver com um elemento tão inflexível quanto a hierarquia pode ser um choque para alguns, mas a longo prazo é sempre um benefício.
O respeito e a cordialidade do KOHAI para com seu SENPAI é algo estritamente necessário, um não escolhe o outro apenas por sua excelência técnica. Um discípulo será muito mais que um lutador, será um representante, perpetuará um legado, e, para tanto, muitos outros elementos são considerados como por exemplo: o comprometimento, a fidelidade, a sinceridade e a dedicação. São os aspectos da personalidade de um indivíduo que dirão que conhecimentos podem ser confiados à ele.
Ao contrário do que se pode pensar, o objetivo de um verdadeiro mestre nunca deveria ser anular o ser e criar algo à sua semelhança, os que exigem a abdicação do eu são narcisistas, exaltam suas graduações e fazem os que estão hierarquicamente abaixo de si crerem que o seu caminho é o único e melhor. Essas pessoas não procuram proliferar a sabedoria, apenas querem a submissão incondicional.
O eu sem sua essência é apenas uma cópia e nunca atingirá a evolução, quem está "à frente"  deve mostrar o caminho, mas cabe ao discípulo segui-lo à sua maneira. Mesmo que se lhe ensine a postura e a técnica, este terá que caminhar sozinho. O mestre não deve ver seu discípulo como algo inferior a ele, algo que deve ser apagado e reconstruído, mas sim uma das partes de uma relação, afinal, sem mestre não haveria discípulo e sem discípulo o mestre seria inexistente, é uma relação de dualidade e cumplicidade e deve ser vista por ambos como tal.
O mestre não pode ser competitivo ou orgulhoso, ele deve ver a si mesmo como uma ferramenta, sempre esperando que seu conhecimento evolua e expanda através das gerações que o receberem, e o aluno deve ser solícito e dedicado, sem, portanto, desfazer-se de sua identidade.
Do contrário, todo o propósito milenar contido no conceito SENPAI/KOHAI, que é a passagem do conhecimento por meio da cumplicidade, se perde.
Esta reflexão levou-me a uma frase que divido com todos agora: "Todo Sensei foi Senpai, nem todo Senpai será Sensei, todo Sensei já foi Kohai mas nem todo Kohai será alguém." (Edson Capinski).

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